Camila: Espaço Cultural

Dois em um

Texto autobiográfico - Descobertas

Meu nome é Camila Cordeiro Guimarães, nasci em 3 de dezembro de 1992 em Montes Claros – MG. Quando criança, vivi meus melhores momentos no Colégio Presbiteriano, onde estudei por dez anos. É no tempo da infância que passamos por várias descobertas: primeiros amigos, início do aprendizado, convívio com colegas e professores… Mas algo que sempre me recordo é do começo de minha imersão na leitura.
Eu devia ter sete ou oito anos quando reformaram a biblioteca da minha escola. Os livros didáticos, antes disponíveis apenas para os professores, passaram a ser acessíveis também para os alunos, além do acréscimo de vários outros livros de literatura. Não pensei que isso teria um grande impacto em mim, afinal, todo o tempo livre do recreio eu passava correndo, brincando, comendo meu lanche e conversando com meus amigos. No entanto, mudei a minha opinião ao descobrir o que aquele lugar podia me oferecer.
Lembro perfeitamente. A segunda prateleira da segunda estante embaixo da janela que dava para o pátio. Era lá que ficavam os melhores livros, as melhores histórias publicadas pela série Vaga-lume, que me transportavam para um mundo completamente diferente. Com as diversas obras que li, aprendi que todos têm direitos iguais, independente da classe social; que devemos ter cuidado em quem confiar, pois muitos adultos podem ter más intenções; que a verdadeira amizade é uma das mais preciosas dádivas que podemos receber; que a nossa imaginação é uma rota com infinitos destinos… Enfim, foi através de tudo isso que entendi o real sentido da literatura, mesmo que naquela época, essa palavra não fizesse parte do meu inocente vocabulário.

Autobiografia e memória literária

Comentário por Camila Cordeiro Guimarães


A autobiografia é um gênero literário marcado pela narração em primeira pessoa e veracidade dos fatos, onde o autor relata acontecimentos de sua própria vida.
Para Philippe Lejeune, um dos maiores especialistas e estudiosos da área, a autobiografia é uma prática antiga, relacionada à necessidade do homem de fixar através do registro escrito as suas vivências.
Podem-se pegar três exemplos da autobiografia como literatura confessional, coincidentemente, todas com o mesmo nome: Confissões. A obra de Santo Agostinho possui um caráter mais religioso, mostrando os fatos desde a infância até a vida adulta do bispo – seus pecados antes de se tornar cristão, seus estudos, a conversão, seu relacionamento com Deus, entre outros. Já a obra de Jean-Jacques Rousseau possui um caráter mais político e filosófico, onde o autor nos leva a uma reflexão a partir dos próprios acontecimentos de sua vida. Por fim, a obra de Darcy Ribeiro discorre de forma leve e irônica sobre sua vida, família e idéias, além de fazer sempre inferência a história do Brasil.

Texto base: leia em Leitura Literária

Utopia

Gênero lírico: subjetividade, carga emotiva e alogicidade

Marcado fortemente pelo estado emocional do eu-lírico, esse gênero nos faz sentir toda a subjetividade passada pelo autor, através do abuso da função emotiva e poética.
Vejamos um exemplo de um poema da 2ª geração do Romantismo, caracterizada pelo extremo sentimentalismo, amor platônico e melancolia.

Sonhando,
                                                    de Álvares de Azevedo

Na praia deserta que a lua branqueia,
Que mimo! que rosa! que filha de Deus!
Tão pálida... ao vê-la, meu ser devaneia.
Sufoco nos lábios os hálitos meus!
Não corras na areia,
Não corras assim!
Donzela, onde vais?
Tem pena de mim!


A praia é tão longa! e a onda bravia
As roupas de gaza te molha de escuma...
De noite, aos serenos, a areia é tão fria...
Tão úmido o vento que os ares perfuma!
És tão doentia...
Não corras assim...
Donzela, onde vais?
Tem pena de mim!


A brisa teus negros cabelos soltou,
O orvalho da face te esfria o suor,
Teus seios palpitam — a brisa os roçou,
Beijou-os, suspira, desmaia de amor!
Teu pé tropeçou...
Não corras assim...
Donzela, onde vais?
Tem pena de mim!


E o pálido mimo da minha paixão
Num longo soluço tremeu e parou,
Sentou-se na praia, sozinha no chão,
A mão regelada no colo pousou!
Que tens, coração?
Que tremes assim?
Cansaste, donzela?
Tem pena de mim!


Deitou-se na areia que a vaga molhou.
Imóvel e branca na praia dormia;
Mas nem os seus olhos o sono fechou
E nem o seu colo de neve tremia...
O seio gelou?...
Não durmas assim!
Ó pálida fria,
Tem pena de mim!


Dormia: — na fronte que níveo suar...
Que mão regelada no lânguido peito...
Não era mais alvo seu leito do mar,
Não era mais frio seu gélido leito!
Nem um ressonar...
Não durmas assim...
Ó pálida fria,
Tem pena de mim!


Aqui no meu peito vem antes sonhar
Nos longos suspiros do meu coração:
Eu quero em meus lábios teu seio aquentar,
Teu colo, essas faces, e a gélida mão...
Não durmas no mar!
Não durmas assim.
Estátua sem vida,
Tem pena de mim!


E a vaga crescia seu corpo banhando,
As cândidas formas movendo de leve!
E eu vi-a suave nas águas boiando
Com soltos cabelos nas roupas de neve!
Nas vagas sonhando
Não durmas assim...
Donzela, onde vais?
Tem pena de mim!


E a imagem da virgem nas águas do mar
Brilhava tão branca no límpido véu...
Nem mais transparente luzia o luar
No ambiente sem nuvens da noite do céu!
Nas águas do mar
Não durmas assim...
Não morras, donzela,
Espera por mim!

Tema: amor impossível e morte
Tese: no poema notamos a exaltação do eu-lírico por uma mulher, sendo logo vista como um amor platônico e inatingível, além do grande saudosismo e fuga da realidade, sendo o mundo onírico bastante explorado como em diversos outros poemas dessa geração.

Muito Barulho Por Nada: a persuasão de Shakespeare

Comentário por Camila Cordeiro Guimarães

A obra “Muito Barulho Por Nada” foi escrita pelo dramaturgo inglês William Shakespeare em meados de 1590, sendo considerada uma de suas melhores comédias devido à forma ardilosa como expõe as falas dos personagens.
Segundo Nélson Jahr Garcia[1], Shakespeare mostrou com suas citações como a mente humana é fraca e suscetível aos recursos da comunicação, fazendo com que as pessoas cometam atos que não fariam em outras situações.
Vemos isso nos três principais acontecimentos da história: os jovens Beatriz e Benedito, ambos de gênio forte e língua afiada, cujos diálogos sempre estavam carregados de ironia e trocas de acusações impertinentes; o amor e conseqüente noivado entre o fidalgo Cláudio e a jovem Hero, filha do governador Leonato da cidade de Messina e prima de Beatriz; e as ações falsas e vingativas de D. João, irmão bastardo de D. Pedro, que se focou em pôr um fim ao casamento já marcado de seus conhecidos.
Ao mesmo tempo em que Cláudio, Hero, Leonato e a criada Úrsula tecem um plano para convenceram Beatriz e Benedito a declararem seu amor um pelo outro, D. João arma, juntamente com seus comparsas, um falso incidente para que Hero fosse taxada de impura e ficasse mal vista pelo até então noivo. Cláudio, crente que a futura esposa se encontrava com outro homem à noite e sem desconfiar que fora uma armação entre a criada Margaret e um seguidor de D. João, acaba por romper o noivado e humilha Hero na frente de todos. Por ter desmaiado após a fala irada de Cláudio, Hero é aconselhada a se fingir de morta, pois assim poderia provocar culpa nele e fazê-lo se arrepender de suas ações quando a verdade fosse revelada em seu falso velório.
Beatriz e Benedito se tornam mais próximos apenas por questão de formalidade e para ajudar à jovem Hero, mesmo que duvidem da veracidade dos rumores sobre o amor que sentem um pelo outro às escondidas. Devido às testemunhas que escutaram um homem dizer que foi pago por D. João para participar da armação contra Hero, a verdade é esclarecida e Cláudio se desculpa, recebendo a noiva de volta ao constatar que ela ainda estava viva.
D. João é preso conseqüentemente e a atenção do ato final recai sobre o destino de Beatriz e Benedito, que após saberem que os rumores entre si faziam parte de um plano para aproximá-los, acabam por achar um fundo de verdade mesmo por trás de todas as provocações que trocavam, e terminam juntos, quebrando o fato de que jamais se casariam.
Sendo assim, essa comédia, relatando episódios cotidianos através de personagens humanos e reais, prova mais uma vez a genialidade de Shakespeare ao explorar o comportamento das pessoas através de uma trama inteligente e sagaz.

[1] Nélson Jahr Garcia é formado na Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Professor da USP, e de outras Faculdades Particulares. Fez mestrado e doutoramento em Ciências da Comunicação na ECA-USP. Escreve livros, artigos. É webdesigner e ebook-publisher.

Obra: Muito Barulho Por Nada, de William Shakespeare



A persuasão da língua humana é a chave para todos os acontecimentos dessa obra de Shakespeare. Dois jovens geniosos que lutam contra os sentimentos amorosos; um homem vingativo que não quer a felicidade alheia, um noivado ameaçado por calúnias… Qual será o desfecho desses fatos interligados?

Link para download completo da obra: http://virtualbooks.terra.com.br/freebook/shakespeare/muito_barulho_por_nada.htm