Camila: Espaço Cultural: Gênero lírico: subjetividade, carga emotiva e alogicidade

Gênero lírico: subjetividade, carga emotiva e alogicidade

Marcado fortemente pelo estado emocional do eu-lírico, esse gênero nos faz sentir toda a subjetividade passada pelo autor, através do abuso da função emotiva e poética.
Vejamos um exemplo de um poema da 2ª geração do Romantismo, caracterizada pelo extremo sentimentalismo, amor platônico e melancolia.

Sonhando,
                                                    de Álvares de Azevedo

Na praia deserta que a lua branqueia,
Que mimo! que rosa! que filha de Deus!
Tão pálida... ao vê-la, meu ser devaneia.
Sufoco nos lábios os hálitos meus!
Não corras na areia,
Não corras assim!
Donzela, onde vais?
Tem pena de mim!


A praia é tão longa! e a onda bravia
As roupas de gaza te molha de escuma...
De noite, aos serenos, a areia é tão fria...
Tão úmido o vento que os ares perfuma!
És tão doentia...
Não corras assim...
Donzela, onde vais?
Tem pena de mim!


A brisa teus negros cabelos soltou,
O orvalho da face te esfria o suor,
Teus seios palpitam — a brisa os roçou,
Beijou-os, suspira, desmaia de amor!
Teu pé tropeçou...
Não corras assim...
Donzela, onde vais?
Tem pena de mim!


E o pálido mimo da minha paixão
Num longo soluço tremeu e parou,
Sentou-se na praia, sozinha no chão,
A mão regelada no colo pousou!
Que tens, coração?
Que tremes assim?
Cansaste, donzela?
Tem pena de mim!


Deitou-se na areia que a vaga molhou.
Imóvel e branca na praia dormia;
Mas nem os seus olhos o sono fechou
E nem o seu colo de neve tremia...
O seio gelou?...
Não durmas assim!
Ó pálida fria,
Tem pena de mim!


Dormia: — na fronte que níveo suar...
Que mão regelada no lânguido peito...
Não era mais alvo seu leito do mar,
Não era mais frio seu gélido leito!
Nem um ressonar...
Não durmas assim...
Ó pálida fria,
Tem pena de mim!


Aqui no meu peito vem antes sonhar
Nos longos suspiros do meu coração:
Eu quero em meus lábios teu seio aquentar,
Teu colo, essas faces, e a gélida mão...
Não durmas no mar!
Não durmas assim.
Estátua sem vida,
Tem pena de mim!


E a vaga crescia seu corpo banhando,
As cândidas formas movendo de leve!
E eu vi-a suave nas águas boiando
Com soltos cabelos nas roupas de neve!
Nas vagas sonhando
Não durmas assim...
Donzela, onde vais?
Tem pena de mim!


E a imagem da virgem nas águas do mar
Brilhava tão branca no límpido véu...
Nem mais transparente luzia o luar
No ambiente sem nuvens da noite do céu!
Nas águas do mar
Não durmas assim...
Não morras, donzela,
Espera por mim!

Tema: amor impossível e morte
Tese: no poema notamos a exaltação do eu-lírico por uma mulher, sendo logo vista como um amor platônico e inatingível, além do grande saudosismo e fuga da realidade, sendo o mundo onírico bastante explorado como em diversos outros poemas dessa geração.

6 comentários:

CRISTIANE PEREIRA DOS SANTOS disse...

camila,apesar de não gostar deste estilo de poema, achei mto interessante sua escolha,vc demostrou ter interpretado a mensagens, o que se torna essencial.

Fernanda Medeiros Silva disse...

Que poema lindo! Muito profundo... A donzela abandona o seu "servo" e ele fica se lamentando pela partida dela. Amor platônico e inatingível, assim como você comentou, Camila! Muito bom seu comentário. =)

Unknown disse...

Até hoje existem homens frouxos que só lhes restam lamentar pela perda de sua amada donzela, que, aliás, nem mais estão tão donzelas assim...

Daniela R. Soares disse...

Não concordo com o léo. Sentir falta ou desejar de alguem não significa ser frouxo. O poema é muito lindo, pode-se sentir a leveza vinda do mar pelo modo com que o eu lírico descreve a sua donzela quando esta é comparada ás aguas do mar.

Palavras em Combate disse...

O poema em questão, assim como vários outros, trata de uma mulher inatingível.O eu lirico compara sua amada com as águas do mar,demonstrando assim a suavidade, a sensibilidade de sua paixão para com seu amor platônico.

Drih Santiago disse...

Que poema lindo! Eu o li como se fosse em forma cantada, ao mesmo tempo que passa leveza nos leva a imaginar estando junto as águas..

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